26 de novembro de 2010


Não há quem não feche os olhos ao comer, não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita, não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória. 
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras. 
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo. 
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio.
Os cílios se mexem como pedais da memória. 
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível. 
Viver é boiar, recordar é nadar.
Escrevo na água, no vento da água. 
O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada.
Sem corpo.
Sem as folhas dos plátanos. 


 [Fabrício Carpinejar]

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